Passada boa parte da comoção facebookiana em relação à pesquisa/boi-de-piranha da IPEA, que desviou a atenção dos esclarecidíssimos 'prafrentistas' de um caso de corrupção estrutural na Petrobrás e obrigou homens a esclarecer que não, nós não apoiamos o estupro de mulher nenhuma, eis que descubro que o timing desses papagaios de pirata das organizações internacionais, que aqui no Brasil atendem pelo nome de 'movimentos sociais', anda mais afiado do que eu imaginada. Reproduzo abaixo artigo do mês passado, publicado na Time.
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É hora de por um fim à histeria sobre a ‘cultura do estupro’
por Caroline Kitchens*
A maior e mais influente organização de combate à violência sexual
dos EUA está rejeitando a ideia de que a cultura – ao invés das ações de
indivíduos – é responsável pelos estupros.
‘Estupro é tão americano quanto a torta de maça’, diz a
blogueira Jessica Valenti. Ela e suas companheiras de luta descrevem nossa
sociedade como uma ‘cultura do estupro’, onde violência contra mulheres é tão
normal, que chega a ser quase invisível. Filmes, revistas, moda, livros,
musica, humor, até a Barbie – de acordo com as ativistas – cooperam para
transmitir a mensagem de que mulheres são para ser usadas, abusadas e
exploradas. Recentemente, a teoria da cultura do estupro migrou dos cantos
solitários da blogosfera feminista para o mainstream. Em Janeiro, a Casa Branca
afirmou que precisamos combater o estupro universitário ‘[modificando] a
cultura de passividade e tolerância neste país, que muitas vezes permite que
esse tipo de violência persista’.
Tolerância pelo estupro? Estupro é um crime hediondo, e
estupradores são execrados. Nós temos leis rígidas que os americanos querem ver
aplicadas. Embora o estupro seja de fato um problema sério, não há evidência de
que seja considerado uma norma cultural. A América do século XXI não possui uma
cultura do estupro; o que nós temos é um lobby fora do controle conduzindo o
público e nossos líderes educacionais e políticos para o caminho errado. A
teoria da cultura do estupro está fazendo muito pouco para ajudar as vítimas,
mas o seu poder de envenenar as mentes de jovens mulheres e conduzir à
ambientes hostis para homens inocentes é imenso.
Em universidades, a obsessão por eliminar a ‘cultura do
estupro’ nos conduziu a censura e a histeria. Na Universidade de Boston,
estudantes lançaram um abaixo-assinado exigindo o cancelamento de um show de
Robin Thicke por que a letra da sua música ‘Blurred Lines’ supostamente
celebrava ‘o patriarcado sistêmico e a opressão sexual’ (A letra pode não seja
lá muito agradável para muitas mulheres, mas letras de músicas não transformam
homens em estupradores. Ainda assim, ridiculamente, a música já foi banida de
mais de 20 universidades britânicas). Ativistas em Wellesley recentemente
exigiram que administradores removessem uma estátua de um homem sonâmbulo: a
imagem de um homem seminu poderia ‘despertar’ memórias de um ataque às vítimas.
Enquanto isso, um número maior de jovens são acusados de estupro, têm seus
nomes publicados e são trazidos diante de um júri universitário informado pela ‘cultura
do estupro’. Em tais tribunais, devido processo legal é praticamente
inexistente: acusado logo culpado.
Os teóricos da 'cultura do estupro' repudiam críticos que
levantam exemplos de historia e falsas acusações como ‘negadores’ ou ‘apologistas’
do estupro. Sequer sugerir que as falsas
acusações ocorrem, de acordo com os ativistas, significa ‘culpar a vítima’. Mas
agora, esses ‘culturalistas’ estão enfrentando uma crítica formidável que mesmo
eles verão ser difícil de encarar.
RAINN (Rede Nacional do Estupro, Abuso e Incesto, na sigla
em inglês) é a maior e mais influente organização de combate à violência
sexual. É a voz de liderança na defesa às vítimas de crimes sexuais. De fato,
ativistas da cultura do estupro rotineiramente citam a autoridade do RAINN para
fundamentar seus argumentos. Mas nas
suas recentes recomendações à Força Tarefa da Casa Branca para a Proteção de
Estudantes contra Atentados Sexuais, a organização repudiou a retórica do
movimento anti-‘cultura do estupro’:
‘Nos últimos anos, vem
ocorrendo uma tendência infeliz de culpar a ‘cultura do estupro’ pelo extenso
problema de violência sexual em universidades. Embora seja útil apontar as
barreiras sistêmicas para que se lide com o problema, é importante não
perdermos de vista um simples fato: Estupro não é causado por fatores culturais
mas por decisões conscientes, de uma pequena porcentagem da comunidade, de
cometer um crime violento’.
RAINN exorta a Casa Branca para que ‘permaneça focada na verdadeira causa do problema’ e
sugere uma abordagem tripartite para combater o problema: capacitar membros da
comunidade a intervir em situações, usar ‘mensagens de redução de risco’ para
encoragar estudantes à elevar sua segurança pessoal e promover educação clara
sobre ‘consentimento’. Ela também afirma
que nós devemos tratar o estupro como o crime sério que é, dando poder à força
policial trainada ao invés dos corpos judiciais internos das universidades.
RAINN é especialmente crítica com relação à ideia de que
precisamos focar em ensinar homens a não estuprar – a marca o ativismo anti-‘cultura
do estupro’. Uma vez que nossa cultura tolera e normaliza o estupro, dizem os
ativistas, nos podemos por fim à epidemia de violência sexual apenas ensinando
meninos à não estuprar.
Ninguém negaria que devemos ensinar meninos a respeitar
mulheres. Mas, em geral, isso já está acontecendo. Por volta da idade em que
homens chegam à faculdade, explica RAINN, ‘a maioria dos estudantes foi exposta
a 18 anos de mensagens preventivas, de uma forma ou de outra’. A vasta maioria
dos homens absorve essas mensagens e vê o estupro como o crime hediondo que é.
Logo, esforços para combater o estupro devem se focar na pequena porcentagem da
população que ‘provou-se imune às mensagens preventivas’. Elas não devem vilificar o homem comum.
Ao culpar a chamada ‘cultura do estupro’, nós implicamos
todos os homens numa atrocidade social, trivializamos a experiência das
sobreviventes e desviamos a culpa dos estuprados que são os reais culpados pela
violência sexual. RAINN explica que a tendência em focar na cultura do estupro ‘tem
o efeito paradoxal de dificultar o combate à violência sexual, já que remove o
foco do indivíduo faltoso e aparentemente mitiga a responsabilidade pessoal por
suas próprias ações’.
Pânico moral sobre uma ‘cultura do estupro’ não ajuda
ninguém – muito menos as sobreviventes de ataques sexuais. Líderes
universitários, grupos de mulheres e a Casa Branca tem uma escolha. Eles podem
se por ao lado da polícia de pensamento da blogosfera feminista que está
declarando guerra a Robin Thicke, a Edição de Trajes de banho da Sports Ilustrated, estátuas masculinas e
a Barbie. Ou podem dar ao ouvidos ao conselho são da RAINN.
* Caroline Kitchens é pesquisadora assistente do American Enterprise Institute.
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